por Felipe Mesquita
Não é novidade que a Amazônia é um lugar que desperta interesses econômicos, como a agropecuária, exportação ilegal de madeira, entre outras formas de proveito dos recursos da Amazônia. A exploração de óleo e gás é uma das atividades que tem se desenvolvido na Floresta Amazônica desde 1986, quando foi descoberto o campo de petróleo na região do Urucu, localizado no município de Coari, interior do estado do Amazonas. A exploração de óleo e gás, assim como as outras atividades, traz impactos não só para o meio ambiente, mas também para a população da Amazônia e dos seus arredores.
Com novas concessões de campos de petróleo como o do Azulão e o de Juruá, é prevista a retomada da exploração petrolífera na Amazônia. Embora isso anime o setor do petróleo e o governo local, a recepção da notícia não chega da mesma forma para ambientalistas e líderes indígenas, que se preocupam com os possíveis impactos socioambientais.
Vista aérea de um dos polos da Província Petrolífera de Urucu
. Fonte: Agência Brasil
A poluição de águas para banho e até mesmo para o consumo é um dos riscos da atividade, principalmente pelas modificações que ela traz à região. Os relatos dos moradores de São Pedro da Vila Lira, presente no artigo de Pereira (2014), sobre o ocorrido no igarapé próximo à comunidade ilustram o problema. A água, antes limpa e própria para o consumo, passou a se apresentar barrenta e pesada por conta do aterro do solo onde seria construído o terreno onde ficaria a passagem do poliduto de gás natural e petróleo. Outra consequência foi a destruição das terras de cultivo da comunidade, em que receberam uma indenização, porém com um valor abaixo do que conseguiriam com suas plantações.
Além disso, o sustento de comunidades, como a da população ribeirinha de São Pedro da Vila Lira, é afetado em outros aspectos. O tráfego de lanchas, barcos e navios acabou afastando cardumes de peixes da região. Então, o que antes era encontrado em abundância e permitia o desenvolvimento econômico a partir da pesca para esses moradores, passou a ser suficiente apenas para o consumo familiar.
O espaço urbano não escapa dos impactos consequentes da exploração de óleo e gás na Amazônia. Em razão do início das atividades de extração de petróleo e gás natural, o fluxo migratório para as áreas urbanas aumentou. No entanto, os índices sociais não acompanharam o crescimento econômico da região, de forma que a desigualdade social fica evidente. No município de Coari, no Amazonas, a intensa migração resultou no surgimento de novos bairros na periferia da cidade, com ocupações irregulares e sem planejamento de infraestrutura. Dessa forma, é possível enxergar uma sobreposição dos interesses econômicos em relação ao desenvolvimento social da região, em que uma parte fragilizada da população segue deixada de lado.
Referências:
Folha de S.Paulo. Nicola Pamplona. Governo vê retomada da exploração de petróleo na Amazônia após leilão. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/01/governo-ve-retomada-da-exploracao-de-petroleo-na-amazonia-apos-leilao.shtml#:~:text=O%20petr%C3%B3leo%2C%20o%20g%C3%A1s%20natural%20e%20a%20Amaz%C3%B4nia&text=O%20Amazonas%20%C3%A9%20hoje%20o,queda%20intensa%20em%20suas%20reservas Acesso em: 27/03/2021
ISPN. Instituto Sociedade, População e Natureza. Os povos da Floresta. Disponível em: https://ispn.org.br/biomas/amazonia/povos-e-comunidades-tradicionais-da-amazonia/ Acesso em: 28/03/2021
PEREIRA, R. Impactos socioambientais do projeto de exploração de petróleo e gás no município de Coari/AM: o caso da comunidade ribeirinha de São Pedro da Vila Lira. 2014. Disponível em: http://www.29rba.abant.org.br/resources/anais/1/1401990511_ARQUIVO_ArtigoCompleto29ABA2014.pdf Acesso em: 28/03/2021