Conceito do urbanista Carlos Moreno que pode mudar a forma de entender as cidades
Ainda no século XX já se estimava o crescimento e inchaço das cidades para o século XXI, devido ao processo de globalização da economia e das formas de produção. As cidades são apresentadas como um problema, seja no trânsito caótico que as grandes metrópoles vivenciam, seja na poluição do ar e do solo, seja na perda de empatia dos moradores conveniente à correria urbana.
No modo tradicional de viver nas cidades, pessoas são encaixotadas em alguma parte do tecido urbano e obrigadas a desenvolver a imaginação para sobreviver na complexidade urbana, consequência da alta densidade demográfica. Os cidadãos são a fonte necessária para a inovação e desenvolvimento, mesmo que a vida particular deles na cidade não seja fácil.
Trânsito na Avenida 23 de Maio, em São Paulo. Fonte: VEJA
É literalmente uma conversão ao eixo caótico que a cidade exige, enquanto capazes individualmente de traçar objetivos concretos, de não cruzar a linha da incompetência e de estruturar toda uma vida de forma a driblar as adversidades urbanas. Depois disso, o ser humano é transformado em um cidadão modelo, incapaz de ter um pensamento crítico. Porque está tão imerso no cotidiano desgovernado que pensar em mudanças urbanas gastariam tanta energia que poderia ser redirecionada com facilidade para mais 1h de sono, acomodando-se na vida padrão de não questionamentos.
O pensador e urbanista, Carlos Moreno, professor da Universidade de Sorbonne, na França, subverteu o pensamento tradicionalista de cidades e compôs o conceito de Cidade de 15 minutos. A política urbana vista em Paris pela primeira vez durante a Pandemia do COVID-19, valoriza a micromobilidade das cidades com a adoção de princípios urbanísticos que diminuem o translado das pessoas aos serviços e ao trabalho. Durante o período pandêmico as relações humanas foram alteradas. A forma que se estuda, trabalha e socializa mudou, tornando-se um processo irreversível voltar ao habitual. Com efeito, a entrada da tecnologia 5G, que deixou a internet mais rápida e da geração forçada de soluções de serviços para atender a população durante a pandemia, possibilitou vislumbrar que a necessidade de efetivamente se deslocar aos grandes centros se tornou baixa.
A Cidade de 15 minutos é uma tentativa de aproveitar toda a tecnologia e soluções geradas durante o isolamento social de forma a inserir um pensamento crítico de como estava habituada a viver a população urbana antes da COVID-19. O contexto propõe que a cidade se ajuste aos moradores e que todos os serviços sejam ofertados a uma distância de no máximo 15 minutos de caminhada ou de bicicleta, ou seja, a proposta de Carlos Moreno é que os deslocamentos individuais sejam mínimos, dando valor à microurbanidade, oferecendo espaços de lazer, restaurantes, escolas, espaços de trabalho, hospitais, parques próximos às residências das pessoas.
Os principais serviços apenas quinze minutos de cada parisiense. Fonte: Veja SP
A elaboração do pensamento de Moreno nasce de uma teoria criada pelo próprio pesquisador, intitulada ‘crono-urbanismo’, a qual relaciona o tempo na forma de recurso e diz que esse recurso se esvai na medida que se desperdiça em deslocamentos nas cidades. A análise do urbanista foi que a cidade, como se conhece hoje, é fragmentada e as relações sociais são rasas mesmo vivendo em uma alta taxa de adensamento demográfico. A falta de socialização com os vizinhos faz os espaços urbanos serem mal ocupados, além de gerar um sentimento de solidão e acomodação a condição urbana caótica. Paris, a capital francesa, foi a primeira a implementar o conceito de Cidade de 15 minutos, já refletindo como retornar as atividades urbanas depois da pandemia, numa tentativa de orquestrar um cenário propenso a criar maiores interações sociais, além de promover uma visão mais ecológica e empática com a natureza.
A transformação na forma de entender as cidades traria maior resiliência e uma ligação forte em prol da coletividade para a população urbana. O ato de se apropriar do espaço geraria uma maior consciência de pertencimento que fomentaria discussões contínuas de melhoramento do tecido urbano local. Além disso, todo o processo deixaria os cidadãos menos alienados das soluções urbanísticas e mais felizes, mais saudáveis e ecologicamente consistentes.
Maior integração social valorizando a natureza. Fonte: Veja SP
Referências:
LOPES, Rodrigo. A cidade intencional: o planejamento estratégico de cidades, 1998. Mauad Editora Ltda. Disponível em: < https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=ncv5GK8o5a8C&oi=fnd&pg=PA17&dq=como+surgiram+as+cidades&ots=LMlDl9e2l5&sig=cyhrEUMCPArpAsJExjXptntut0M#v=onepage&q=como%20surgiram%20as%20cidades&f=false >. Acesso em: 07/09/2021
Estadão. FARIA, Beatriz. Cidades de 15 minutos, 2021. Disponível em: < https://mobilidade.estadao.com.br/mobilidade-para-que/cidades-de-15-minutos/ >. Acesso em: 07/09/2021
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